terça-feira, 9 de outubro de 2007
Entidades bauruenses reunidas fizeram com que os 40 anos do assassinato do líder revolucionário latino-americano Che Guevara não passassem em branco na cidade. Juntas solicitaram um espaço público para a realização de um evento que marcasse a data, onde pudessem se reunir, debater idéias e assistir a filmes alusivos a Che. O espaço cedido foi o auditório do Museu Ferroviário e as entidades são o FNDC – Fórum Nacional de Democratização das Comunicações – Comitê Bauru, Cine Clube Aldire Pereira Guedes, Instituto Acesso Popular, Movimento Comunismo em Ação e Núcleo Juventude do PT. Ernesto "Che" Guevara, o personagem central, motivador do encontro, que com a revolução cubana consolidada, entrega seu cargo de ministro de estado e cai no mundo em busca do seu ideário de vida, que foi o de derrubar governos despóticos, fazer a revolução e ver o povo conquistar o poder. O sonho concretizado em Cuba, pelo menos para ele termina em 09/10/2007, quando cai assassinado no interior da Bolívia. Foi-se o homem, permanece o mito, vivo para muitos ao longo desses 40 anos.
Em Bauru, não fosse o evento realizado na noite de segunda, 08/10, a data teria passado em branco. Um jornal local, na única notícia feita antes da data da morte, fala em comemorações, mas na Bolívia e Venezuela, fazendo questão de citar que "revelam o momento político desses países", como se por terem dirigentes socialistas, só eles ainda seriam possuidores da ousadia de comemorar tal data. O grupo daqui distribuiu um pequeno release sobre o evento, nada saindo nos jornais e na TV. As rádios noticiaram no dia, mas se isso foi pouco, não impediu que tudo acontecesse. O boca-a-boca e o e-mail para amigos sempre valem muito nessa hora.
O museu já estava aberto às 18h, quando chega a aparelhagem para a exibição da grande atração da noite, o filme "Che, el hombre, compañero, amigo...", uma produção ítalo cubana de 1996, sob direção de Roberto Massari, que somente Marcos Resende, da organização do evento conhecia: "Trouxe o filme do Brás, do famoso pirata-Brás. Quando vi a fita numa banca, não pensei duas vezes e comprei na hora. Acertei em cheio. São quase duas horas de imagens inesquecíveis". Tanto que, além de juntá-la ao seu acervo, acabou por socializar a exibição naquela noite.
Paulo Henrique, o conhecido PH, entendido de sétima arte chega cedo. Monta tudo e diz estar com grande expectativa, pois nada sabe sobre o filme. De cabeça relaciona uns quatros, tendo Che como personagem. Marcos e sua inseparável coleção de camisetas vermelhas coloca a fita no aparelho e antes mesmo do horário previsto os presentes começam a assistir uma gravação de 12 minutos, com trecho de uma fala do Che ministro em Cuba, de uma entrevista de Fidel ao programa de TV do Maradona, quando o tema era Che e por fim o Hino do Guerrilheiro, com cenas do levante cubano. A primeira expectadora a chegar é Damaris Ribeiro da Silva, que reclama do horário: "Muito cedo, não deu nem tempo de passar em casa. Mas quando fiquei sabendo disso aqui, lá na banca do camelô Fabrício, não acreditei, desmarquei tudo e vim correndo".
Das 19 às 19h30 são repetidas por três vezes os trechos gravados, sendo que o que mais chama a atenção é quando Maradona exibe a perna para Fidel, mostrando que o tem tatuado numa delas. Enquanto a fala de Che ecoa na sala, outros vão chegando, como o ex-guerrilheiro Darcy Rodrigues, que morou dez anos em Cuba e se diz amigo de uma das filhas de Che. Quando questionado de só ter ficado sabendo porque foi convidado e de que quase nada sai na mídia local, que parece ter receio de tocar no nome Che, saiu com essa: "Como não falam de Che, e a capa da última Veja?". Na seqüência não perde a oportunidade: "Viram a entrevista do Chávez no programa do Paulo Henrique Amorim. Foi um baile. Quando nos deixam falar não tem pra mais ninguém". Com umas vinte pessoas na sala, o evento tem início e após uma breve abertura, quem pede a palavra é o Marcos, que emocionado, falando várias vezes em nome dos "camaradas", rasga a Veja que faz ironias a figura do Che, provocando aplausos e risos gerais.
Com o filme rolando chegam mais pessoas, como o casal de militantes da esquerda Arthur Monteiro Jr e Lílian, o Jorge Moura e dois colegas do Acesso Popular e alguns casais. São duas horas de algo indescritível. Quase ninguém levantou das cadeiras, pois a grande maioria dos presentes eram militantes e pessoas que vivenciaram a luta pela libertação dos povos latinos e da consolidação cubana no continente. Percebe-se um remexer nas cadeiras quando Che exaltado proclama num dos seus discursos: "Temos três frentes permanentes de luta: estudo, trabalho e fuzil, esse obviamente para defender a Revolução".
Por volta das 22 horas, quando a sessão tem fim, Darcy é convidado e falar de Cuba, Che e sua experiência no exílio. Emociona os presentes e o casal Maria Orlene Daré e Alberto Pereira Luz, não se contentam em ouvi-lo, o questionam sobre a saúde e a educação ministrada na ilha. Ela, que esteve em Cuba há três anos, diz que hoje "existe uma geração mais velha, que apóia a Revolução e uma mais nova, influenciada pelos turistas, que quer consumir, ter os apetrechos que vêem com os visitantes". Darcy diz ser esse um dos males da abertura, que pode ser rebatido com "a pequena liberdade existente do lado de cá e o pouco poder que temos, de consumir tudo o que nos é oferecido. Temos menos liberdades que eles, mesmo sem perceber isso".
Um grupo se forma ainda dentro da sala e dele quem se destaca é a professora de matemática, Matilde, que traz o filho e um amigo. Ficou sabendo sem querer, ao ouvir a rádio Véritas FM e arrebanhou a prole para comparecer: "Se perdesse isso aqui, acho que não teria uma segunda chance". Por fim, acerta com PH trazer seus alunos numa sessão do Cine Clube e sobre o filho é enfática: "Cresceu ouvindo, lendo e vendo minhas ações e hoje ele é que acaba me convidando para um monte de coisas desse tipo". Surge a idéia de se fazer cópias da fita e uma lista com uns dez nomes são relacionados. Um doa R$ 10 reais e outro a seguir, faz o mesmo, bancando todo o custo das reproduções. Num canto PH tenta argumentar com o Marcos sobre ao papel da revista Veja e da imagem do Che: "Acho até bom tocar em pontos negativos. Ninguém é perfeito. Vamos então discutir, não só os pontos positivos, mas os que eles dizem serem negativos. Isso é salutar".
Quase 22h30 todos vão para a calçada e quem surge de última hora é o professor da UNESP, Laranjeira, que saiu de uma aula naquele momento e com um vistoso chapéu panamá e uma camiseta vermelha, com a famosa foto do Che estampada ainda ficou para as discussões finais. Todos foram para a padaria na praça Machado de Mello e mais um acordo foi selado de última hora: Laranjeira requisitaria uma sala na universidade e a noite com Che provavelmente terá continuidade. Com os devidos pães comprados para o dia seguinte, os últimos presentes, em três carros se vão e com eles algo que permanece para sempre no imaginário de toda uma geração: Noites assim são imperdíveis e fazem um bem danado para quem delas participa. De alma lavada, cada um segue seu caminho.
Henrique Perazzi de Aquino, 09 de outubro de 2007.
Com o filme rolando chegam mais pessoas, como o casal de militantes da esquerda Arthur Monteiro Jr e Lílian, o Jorge Moura e dois colegas do Acesso Popular e alguns casais. São duas horas de algo indescritível. Quase ninguém levantou das cadeiras, pois a grande maioria dos presentes eram militantes e pessoas que vivenciaram a luta pela libertação dos povos latinos e da consolidação cubana no continente. Percebe-se um remexer nas cadeiras quando Che exaltado proclama num dos seus discursos: "Temos três frentes permanentes de luta: estudo, trabalho e fuzil, esse obviamente para defender a Revolução".
Por volta das 22 horas, quando a sessão tem fim, Darcy é convidado e falar de Cuba, Che e sua experiência no exílio. Emociona os presentes e o casal Maria Orlene Daré e Alberto Pereira Luz, não se contentam em ouvi-lo, o questionam sobre a saúde e a educação ministrada na ilha. Ela, que esteve em Cuba há três anos, diz que hoje "existe uma geração mais velha, que apóia a Revolução e uma mais nova, influenciada pelos turistas, que quer consumir, ter os apetrechos que vêem com os visitantes". Darcy diz ser esse um dos males da abertura, que pode ser rebatido com "a pequena liberdade existente do lado de cá e o pouco poder que temos, de consumir tudo o que nos é oferecido. Temos menos liberdades que eles, mesmo sem perceber isso".
Um grupo se forma ainda dentro da sala e dele quem se destaca é a professora de matemática, Matilde, que traz o filho e um amigo. Ficou sabendo sem querer, ao ouvir a rádio Véritas FM e arrebanhou a prole para comparecer: "Se perdesse isso aqui, acho que não teria uma segunda chance". Por fim, acerta com PH trazer seus alunos numa sessão do Cine Clube e sobre o filho é enfática: "Cresceu ouvindo, lendo e vendo minhas ações e hoje ele é que acaba me convidando para um monte de coisas desse tipo". Surge a idéia de se fazer cópias da fita e uma lista com uns dez nomes são relacionados. Um doa R$ 10 reais e outro a seguir, faz o mesmo, bancando todo o custo das reproduções. Num canto PH tenta argumentar com o Marcos sobre ao papel da revista Veja e da imagem do Che: "Acho até bom tocar em pontos negativos. Ninguém é perfeito. Vamos então discutir, não só os pontos positivos, mas os que eles dizem serem negativos. Isso é salutar".
Quase 22h30 todos vão para a calçada e quem surge de última hora é o professor da UNESP, Laranjeira, que saiu de uma aula naquele momento e com um vistoso chapéu panamá e uma camiseta vermelha, com a famosa foto do Che estampada ainda ficou para as discussões finais. Todos foram para a padaria na praça Machado de Mello e mais um acordo foi selado de última hora: Laranjeira requisitaria uma sala na universidade e a noite com Che provavelmente terá continuidade. Com os devidos pães comprados para o dia seguinte, os últimos presentes, em três carros se vão e com eles algo que permanece para sempre no imaginário de toda uma geração: Noites assim são imperdíveis e fazem um bem danado para quem delas participa. De alma lavada, cada um segue seu caminho.
Henrique Perazzi de Aquino, 09 de outubro de 2007.
Nenhum comentário:
Postar um comentário