quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Bauru: caso Juninho


17 de dezembro de 2008

Às três da manhã do dia 15 de dezembro, seis policiais militares invadiram a casa de Carlos Rodrigues Júnior, o Juninho, 15 anos, suspeito de ter furtado uma moto. Seguiu-se uma cena inusitada: enquanto a mãe e a irmã do adolescente eram mantidas na sala, sob vigilância, no quarto, Juninho era submetido a uma sessão de choques elétricos, com um fio ligado à tomada. A tortura terminou uma hora depois. Juninho estava morto

No dia seguinte à morte de Juninho, o presidente da Associação de Mães e Amigos da Criança e Adolescente (AMAR) entrou em contato com membros da Subsede do CRP de Bauru. Os membros da Comissão Gestora, e também integrantes da Comissão de Criança e Adolescente, decidiram se mobilizar. Um encontro realizado na sede do Conselho dois dias depois do assassinato reuniu representantes da AMAR, do Conselho Tutelar, da Secretaria do Bem Estar Social, da OAB, da Defensoria Pública e do Instituto Acesso Popular, além de professores, estudantes e lideres de bairro. Surgia assim o Grupo contra a Violência e a Violação dos Direitos Humanos.

A primeira ação do grupo foi redigir moção de repúdio à imprensa local. Foi também criado um blog para permitir que as pessoas contassem com um espaço para compartilhar seus sentimentos e endossarem a causa. Além disso, foi realizado um ato ecumênico, não apenas em memória de Juninho mas também por três outros jovens assassinados brutalmente: Jonathan Bueno Garcia, 15, morto na Fundação Casa; Jorge Lourenço, 22, supostamente assassinado ao fugir de um bloqueio policial por não possuir documentos e, ainda, Rinaldo Pires Júnior, 14, atingido por tiros de espingarda disparados pelo proprietário de um pesqueiro. O ato foi celebrado um mês após a morte de Juninho, na praça central de Bauru. Próximo a 200 pessoas, a maioria vestindo branco, compareceram ao local.

"Não podíamos ficar calados, omissos diante de tanta violência e desrespeito aos direitos e a pessoa humana. Tínhamos que expressar nossa indignação e esclarecer à sociedade que esta morte praticada supostamente sob tortura por policiais, não era uma fatalidade ou um fato isolado, como tentavam anunciar", diz Maria Orlene Daré, subcoordenadora da Comissão Gestora do CRP-Bauru. "Esta atrocidade é uma prática recorrente e está inserida na concepção perversa de que para certos segmentos sociais, cabe um tratamento degradante e muitas vezes de extermínio, uma vez, que este segmento contém um elemento de desprezo e periculosidade por ser em sua maioria, moradores de periferia, negros, de pouca escolaridade e de pouco poder aquisitivo. Portanto, portadores de pouca humanidade".

"Nós, enquanto grupo formado por adultos, cidadãos, responsáveis pelo que produzimos socialmente, nos sentimos em dívida perante essas perdas e diante dessas famílias, pois não conseguimos garantir a esses jovens e adolescentes o direito maior e fundamental que é a vida", diz Maria Orlene Daré. "Por isso, fizemos toda a proposta de trabalho desde a mobilização até o convite aos participantes". O objetivo, segundo ela, foi sensibilizar a sociedade, passando uma mensagem contra a violência, barbárie policial, exigindo punição e justiça.

O Grupo contra a Violência e Violação de Direitos Humanos continua ativo, encontrando-se mensalmente, e pretende realizar outros atos de denúncia e de mobilização social. Um deles será a distribuição à população da cartilha "Abordagem Policial", produzida pelo Centro de Direitos Humanos de Sapopemba (SP). Esta cartilha mostra qual deve ser o comportamento dos policiais no atendimento aos cidadãos, em uma delegacia, durante uma busca ou numa abordagem na rua.

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